O texto poético- com um poema escrito durante o Estado Novo (a ditadura) e outro depois do 25 de abril.
Quem foi Jorge de Sena? Um escritor (romancista, poeta, crítico, tradutor e professor universitário) que foi viver no Brasil e, depois, nos Estados Unidos, durante a década de 50 (1959), durante a ditadura, e nunca mais voltou a trabalhar e a viver em Portugal. Escreveu dois textos sobre a cor da liberdade. O primeiro é este e data de 1956:
https://ensina.rtp.pt/artigo/jorge-de-sena/
«Quem a tem»
qual a cor da liberdade.
Eu não posso senão ser
desta terra em que nasci.
Embora ao mundo pertença
e sempre a verdade vença,
qual será ser livre aqui,
não hei-de morrer sem saber.
Trocaram tudo em maldade,
É quase um crime viver.
Mas, embora escondam tudo
e me queiram cego e mudo,
Não hei-de morrer sem saber
Qual a cor da liberdade.
::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::
2.º poema:
Às Forças Armadas e ao povo de Portugal
Jorge de Sena
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Quase, quase cinqüenta anos
reinaram neste país,
e conta de tantos danos,
de tantos crimes e enganos,
chegava até à raíz.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Tantos morreram sem ver
o dia do despertar!
Tantos sem poder saber
com que letras escrever,
com que palavras gritar!
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Essa paz de cemitério
toda prisão ou censura.
e o poder feito galdério,
sem limite e sem cautério,
todo embófia e sinecura.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Esses ricos sem vergonha,
esses pobres sem futuro,
essa emigração medonha,
e a tristeza uma peçonha
envenenando o ar puro.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Essas guerra de além-mar
gastando as armas e a gente,
esse morrer e matar
sem sinal de se acabar
por política demente.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Esse perder-se no mundo
o nome de Portugal,
essa amargura sem fundo,
só miséria sem segundo,
só desespero fatal.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Quase, quase cinquenta anos
durou esta eternidade,
numa sombra de gusanos
e em negócios de ciganos,
entre mentira e maldade.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Saem tanques para a rua,
sai o povo logo atrás:
estala enfim, altiva e nua,
com força que não recua,
a verdade mais veraz.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
1974
Sem comentários:
Enviar um comentário