sábado, 6 de novembro de 2010

A Biblioteca e a Mudança

TAREFA 3 -

Para uma “prática baseada na acção” tal como é referida por Ross Todd, no seu artigo Professores Bibliotecários Escolares: resultados da aprendizagem e prática baseada em evidência, o professor bibliotecário precisa de recolocar a Biblioteca Escolar no caminho do conhecimento, do saber, do processo de ensino-aprendizagem dos alunos e dos docentes. Numa Escola Secundária esse reposicionamento afigura-se ainda mais urgente (como é o caso da escola onde estou, pela primeira vez), pois as novas tecnologias afastaram ainda mais os alunos e os docentes da Bibliotecas (e talvez as práticas anteriores). Criou-se o sentimento ilusório de que não se precisa da Biblioteca. Este sentimento é difícil de combater, quando está instalado e quando o novo professor bibliotecário chega com outras ideias, não pertence à escola, não percebe a Cultura de escola. Falo claramente do que Todd designa como “as percepções dos outros da imagem e do papel do professor bibliotecário, a falta de compreensão por parte dos outros do papel do professor bibliotecário”.

Em jeito ainda de introdução, num texto relativo a um Seminário de 1992, do livro de actas do Conselho Nacional de Educação, A Educação em Portugal no horizonte dos anos 2000, a intervenção do Secretário de Estado dos Ensinos Básicos e Secundários da altura apontava já para essa mudança das práticas dos profissionais da educação. Não se poderia, segundo ele, continuar a ignorar as novas gerações de alunos que têm diante de si “um écran gigante“ (na altura mais a televisão do que o computador) e que necessariamente precisam de compreender os milhões de pequenos sinais que recebem. Criticava o facto da escola ignorar esse facto, porque continuava a ensinar o “thesaurus”, programas fechados, onde a actualidade não existe, numa sociedade da informação que se quer interdependente, aberta. Receava a falta de comunicação porque não se ensinava a tratar tais doses de informação. O que se fez até agora? O que pode a Biblioteca fazer?
A IFLA tem demonstrado que as Bibliotecas Escolares e o professor-bibliotecário podem contribuir para a transformação da organização-escola. Peter Senge referia “as escolas aprendentes”, Donald Schön “as escolas reflexivas”, Wilson (1996), citado por Todd, reforça “as actividades significativas e autênticas que ajudam o aluno a construir conhecimentos e a desenvolver competências relevantes para a resolução de problemas" e Hein (1991), também citado por Todd, reforça a ideia de que "os alunos constroem o conhecimento por si mesmo; cada aluno individualmente (e socialmente) constrói o significado à medida que aprende. A construção de significado é aprendizagem. Não há nenhum outro tipo". Ora, o professor bibliotecário, enquanto motor dessa forma de se encarar a Escola, tem um papel determinante: líder transformacional que “transforma em vez de manter”(Todd, ob.cit.), que aposta nas ligações/conexões em vez das colecções, nas acções, nas evidências, em lugar de se preocupar com a promoção do valor da biblioteca escolar. Refere ainda outros tipos de liderança do professor-bibliotecário essenciais para este processo de mudança, inerentes à liderança transformacional: liderança colaborativa, criativa, estratégica, determinada e sustentável (características também referidas no artigo disponibilizado pela IFLA).

O normativo de avaliação das práticas das Bibliotecas Escolares é o documento mais equilibrado e ambicioso que foi apresentado à Escola nos últimos tempos, porque agregador, e parece-me importante neste processo de recolha de evidências que se pede às escolas (caso das equipas de auto-avaliação; das constantes inspecções- IGE; relação com todos os documentos organizativos, como o Projecto Educativo, Projecto Curricular de Escola, Projecto Curricular de Turma). Por ser ainda recente não é conhecido, nem foi interiorizado pela Direcção, nem estruturas intermédias da Escola ( nem é referido nos documentos organizativos, nem no PAA). Resultou de um longo processo de aprendizagem, de mais de três décadas, em todo o mundo, porém receio que, em Portugal, se deva também incluir as direcções, equipas de avaliação, coordenadores e centros de formação nestas formações sobre o modelo de auto-avaliação das Bibliotecas Escolares para que se perceba o seu alcance que ultrapassa as paredes da Biblioteca.

A Biblioteca tem, assim, que estabelecer o seu Plano de Acção atemapadamente, tal como é preconizado pelo Modelo de Auto-Avaliação, apresentando-o à Direcção e ao Conselho Pedagógico para que possa ser discutido e alterado. O Plano de Actividades, articulado com as outras bibliotecas da Rede de Bibliotecas Escolares de que faz parte e com todas as estruturas da escola, deve ser aberto, negociado, alterado, conhecido pelos parceiros. (muito trabalho há a fazer neste domínio da Articulação, quando em quase 200 actividades do PAA, para este ano lectivo, só surgiram 3 referências à Biblioteca Escolar, apesar do envio atempado de todos os documentos da Biblioteca que ninguém parece ler). Deve ter em conta o currículo, os documentos organizativos, as metas educacionais. Para isso, a equipa deve ser preparada para esse papel, não pode ser um grupo de docentes que passam os seus tempos não lectivos na Biblioteca, porque foi essa a decisão unilateral da Direcção. Esse constrangimento condiciona depois todo o processo.

Tempo é o que o professor-bibliotecário não tem, nem equipa para desenvolver o seu Plano de Acção, não pode ter um horário alargado por falta de recursos humanos. O professor-bibliotecário tem de propor actividades, articular com docentes e grupos, parceiros exteriores, apoiar as actividades de grupos, docentes, clubes e projectos – mas não tem capacidade de resposta. O professor-bibliotecário quase não consegue sair da Biblioteca e, muitas vezes, tem de trabalhar noutro local, pois ali não tem tempo para desenvolver as suas tarefas. A Escola não tem um modelo de literacia da informação e depois de uma primeira apresentação de um modelo é necessário agora fazer outras formações antes de se escolher um. A capacidade de liderança sofrerá, claramente, com todos estes constrangimentos, com esta falta de tempo.

Os perfis de desempenho deste modelo deveriam incluir itens em que a Organização, em si, também fosse avaliada, porque existem evidências que serão objectivamente postas em causa por questões organizativas a que o professor-bibliotecário não pode dar resposta per si.

O professor-bibliotecário motivado, informado e persistente pode alterar estes constrangimentos. Mas sozinho não pode, com certeza, fazê-lo da forma célere que gostaria. A Escola-Reflexiva precisa de tempo para reflectir. E de reconhecimento e de motivação dos seus profissionais. Estes são tempos difíceis para a Escola Pública e para as Sociedades.

A afirmação de Todd sobre a Biblioteca do Congresso norte-americano deixou também antever que a compreensão humana tem de passar pela Biblioteca, com livros e com bases digitais. A nossa já tem catálogo on-line, é só pesquisar. Não deveremos ter tempo de o actualizar este ano lectivo como gostaríamos, mas esta alteração pode ajudar também a perspectivar uma nova alteração na utilização do acervo da biblioteca e na promoção de um modelo de literacia da informação que tem de estar on-line até ao final deste ano lectivo. Conseguiremos promover a literacia este ano com a ajuda de todos!!

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